quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O fétido necrológio de políticos insepultos

Gilberto Freyre, pensador, sociólogo e escritor brasileiro, autor de clássicos como Casa Grande e Senzala, Sobrados e Mucambos, dentre outros, disse que “uma das vantagens dos que morrem nas batalhas simplesmente eleitorais, sobre os que tombam sem vida nas batalhas de fogo e de sangue, é que o morto político pode fazer com a própria voz, o auto-necrológio”. O discurso, precisamente a 08 de dezembro de 1950, foi feito no Congresso Nacional, por ocasião de sua despedida, ao final do seu mandato de deputado federal, pelo Estado de Pernambuco.

Não era exatamente uma despedida melancólica da vida pública, mas, uma análise de sua própria atuação enquanto parlamentar. Discordou de Oscar Wilde que certa vez afirmou, “qualquer ‘mané-gostoso’ pode fazer história, enquanto só conseguem escrevê-la, grandes homens”. Freyre acreditava que “o ideal para um homem de verdadeira grandeza – tal como a concebem os povos de formação ibérica – é fazer história e não apenas escrevê-la”.

Aproprio-me licitamente do pensamento de Freyre, para tecer um viés, um fragmento pessoal do que penso ser oportuno para o momento, quando logo ali, seremos chamados às urnas, para o sagrado e constitucional dever de escolhermos “nossos ou nossas representantes” (a maioria só representa a si mesmo e a uns poucos chegados)!
Nesses tempos de pré-eleição, quando a escolha de candidatos verdadeiramente há muito já começou e, em certa medida está devidamente definidinha, certinha, casadinha, juramentadinha, e outros “dinhas”, corpos insepultos, caquéticos, decrépitos, quase mudos, voltarão à cena, embora, já completamente superados, fora de forma, com pensamentos e idéias ultrapassadas.

Para ser mais claro, a fila anda, o bonde da história não para, só políticos arcaicos e retrógrados não percebem isso e continuam achando que podem encurralar ( o termo é precisamente esse), um punhado de eleitores e manter sobre eles total domínio, como se o fossem apenas e tão somente, massa de manobra, um reduto eleitoral a ser usado de acordo com a melhor conveniência. A melhor delas, cabalar votos para si ou para outro qualquer (até o Lula deve fazer isso, pra ajudar a Dilma)!

Absolutamente nada contra as cãs, ao contrário, pululam os exemplos de políticos, cuja data de nascimento é um alegre destoar de suas idéias, sempre atuais, progressistas e visionárias. Ulisses Guimarães, Tancredo Neves e Evandro Carreira, são alguns dos enormes e vastos exemplos. Aliás, o ex-senador Amazonense Evandro Carreira, há 40 anos já defendia o debate sobre as questões amazônicas, tão em voga hoje no mundo inteiro.

A revolta, a indignação, o nojo, a repulsa irritante e crescente é precisamente contra quem já passou, e até possa ter dado alguma contribuição para a democracia ou construção da cidadania e melhoria da qualidade de vida. Porém, já passou, está superado, não se atualizou, mas, vive pendurado nas “tetas” de um governador bonzinho, de um parlamentar “com boas intenções no futuro”, que entende poder se valer dos préstimos de tal político de idéias mortas, porém, fétidas e insepultas.

E mais, é um padrão quase universal. Políticos sem profissão, que sobrevivem fora do poder, à custa do que conseguiam amealhar durante o mandato, sabe-se lá como, e que invariavelmente gravitam no arco de bajulação de quem está no poder, na tentativa, quase sempre desesperada, famélica, de venderem seus fétidos currículos, recheados de denúncias, ações na justiça, obras superfaturadas e outros predicados.

Falando em política eleitoral, é bom ouvir Freyre, de novo: “Política eleitoral: a mais, escura, a mais turva, a mais traiçoeira das políticas. É aquela em que os amigos, desvairados pela fúria da competição, tornam-se às vezes piores que inimigos, e os inimigos, chegam a parecer melhores que os amigos”.

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