quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Caramujo africano vira praga na cidade


Humaitá (AM) - O aumento das chuvas e a falta de um efetivo combate tanto por parte da população, quanto das autoridades de saúde, têm sido responsáveis por uma verdadeira invasão do chamado caramujo africano (Achatina Fulica) em todos os bairros da cidade de Humaitá.

O chamado inverno amazônico, a falta de infraestrutura e a facilidade de reprodução, aliadas à falta de combate, formam a combinação ideal para o aumento assustador desse molusco, reconhecido internacionalmente como uma das 100 espécies invasoras mais perigosas.

Embora possa ser encontrado em toda a cidade, bairros como São Cristóvão, Nova Esperança, São Sebastião e Nossa Senhora do Carmo (Olaria), são os mais infestados e a população, diante de informações diariamente veiculadas principalmente pela televisão, manifesta grande preocupação, sobretudo com a possibilidade da transmissão de doenças em crianças.
Outra preocupação é com o “balneário do Beém”, bastante freqüentado nos primeiros meses do ano, quando se torna um dos mais procurados “points” da cidade. Como se sabe, boa parte dos dejetos sanitários e águas inservíveis são despejadas no Beém, que agora se torna objeto de ainda maior preocupação, com a presença do caramujo africano.

Como se não bastasse, a proximidade do inicio do ano letivo de 2009, previsto para meados de fevereiro, também gera preocupação em pais e responsáveis, uma vez que milhares de alunos e alunas das redes municipal e estadual retornarão às salas de aula, em prédios localizados em regiões propícias à presença do caramujo e nem sempre mantidos em condições adequadas de limpeza e conservação.

TRAJETÓRIA
O Achatina fulica chegou ao Brasil no ano de 1988 durante uma exposição agropecuária em Curitiba. O objetivo era promover a criação e a comercialização da carne desta espécie para o consumo humano. A falta de estudos para a aceitação, viabilidade econômica de comercialização e possibilidade de invasão ambiental, resultaram em descaso e abandono de criações. Assim, os caramujos africanos puderam se reproduzir livremente, alcançando as atuais proporções, e tornando-se um grave problema epidemiológico.

PROBLEMAS
O caramujo africano provoca doenças em humanos e em alguns animais, contamina o solo e a água, pode transmitir vermes que causam doenças neurológicas, como a meningite eosinofílica, embora dessa não tenha havido ainda registro no Brasil. Mas também pode passar aos humanos o causador da angiostrongilíase abdominal, doença fatal que ataca os intestinos (perfuração e hemorragia interna) e da qual há centenas de casos registrados no país.

Também ataca e destrói plantações de mandioca, batata-doce, feijão, amendoim, abóbora, mamão, tomate e verduras, flores, frutas e folhas de diversas espécies, sobe em muros e invade casas, sobrevive o ano todo, se reproduzindo mais rapidamente no inverno, é resistente à seca e ao frio, sobrevive em terrenos baldios, plantações abandonadas, sobras de construções, pilhas de telhas e de tijolos.

A cada dois meses, um caramujo põe 200 ovos e, após Cinco meses, os filhotes viram adultos e começam a se reproduzir. Isso quer dizer que cada caramujo põe até 1.200 ovos por ano, sendo que, segundo especialistas, esse número pode dobrar em caso de acasalamento.
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) está monitorando a presença de parasitas em caramujos por todo o país. “Temos encontrado exemplares grandes, a população está muito densa”, disse a bióloga Silvana Thiengo, pesquisadora do Laboratório de Malacologia do IOC e responsável pelo Centro Nacional de Referência em Malacologia Médica.
“O ciclo da doença envolve o molusco e um roedor. O homem pode entrar acidentalmente no ciclo e ser infectado quando ingere o molusco contaminado com as larvas ou quando o manipula e leva a mão à boca. Ou ainda quando, sem os devidos cuidados, come hortaliças contaminadas com larvas do parasita, que saem no muco do molusco”, advertiu.

Por meio da técnica de digestão artificial, Silvana e colegas têm examinado centenas de caramujos, enviados pelas secretarias de saúde de diversos Estados. “Já encontramos larvas de parasitas de aves e de outros animais domésticos. Mesmo sendo até agora apenas de interesse veterinário, o fato indica que a população de caramujo africano já está inserida no ciclo dos parasitas que vivem no Brasil. Nossa maior preocupação é que, pela proximidade com residências, ele possa vir a se infectar com outras formas de parasitas e se tornar um hospedeiro no ciclo de doenças humanas”, disse.

CONTROLE E COMBATE
Como não existe inseticida ou método de eliminá-los em grande número sem danos para o meio ambiente, a solução é o controle por parte da população e seu efetivo combate por meio de ações e medidas governamentais.

De acordo com o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, os animais devem ser catados (um a um) com mãos enluvadas ou protegidas por mais de um saco plástico, depois de reunidos podem ser incinerados. Morto o caramujo, as conchas não deverão restar inteiras, para evitar que juntem água da chuva, na qual o mosquito da dengue poderá depositar ovos.

O IBAMA recomenda ainda fervê-los durante 50 minutos ou então enterrá-los mortos e dentro de sacos em valas de 80 centímetros, jogando cal virgem em cima dos caramujos. Depois cubra a vala com terra. Vale lembrar que essas valas devem estar distantes de poços ou cisternas. Autoridades divergem quanto ao uso do sal, uma vez que o muco dissolvido do caramujo continua ativo no solo, podendo continuar sua cadeia de contaminação, atingindo inclusive lençóis freáticos.

Para evitar que os caramujos africanos presentes em propriedades vizinhas cheguem ao seu terreno, prepare uma mistura de sabão em pó e água, formando uma calda forte, e espalhe sobre o muro. Refaça esse procedimento a cada três semanas ou após cada chuva.

Outra forma de prevenção é observar se as folhas e frutos estão inteiros, ou seja, se não foram comidos por caramujos. Verduras, frutas e legumes devem sempre ser mergulhados em uma mistura contendo uma colher (sopa) de água sanitária para um litro de água, durante trinta minutos. Enxágüe muito bem antes de comer. Despreze sempre os vegetais que tiveram contato com os caramujos.

COMBATE EM MANAUS
A Operação Impacto II, desenvolvida pela Prefeitura de Manaus em conjunto com a Fundação de Vigilância à Saúde visando eliminar os focos de dengue na capital vai incluir ações de combate ao caramujo africano. O anúncio foi feito pelo secretário municipal de Meio Ambiente e Limpeza e Serviços Públicos, Marcelo Dutra, durante o lançamento oficial da Campanha de Combate ao Caramujo Africano 2009.
O objetivo é orientar a população sobre como proceder ao localizar focos do molusco em casa ou em terrenos públicos. A Campanha coincide com o período chuvoso, quando começam a surgir focos de caramujo nos quintais das residências e em terrenos baldios, onde existe o acúmulo de lixo.

O secretário Marcelo Dutra já está analisando o material de orientação e metodologia da campanha para que ela seja desencadeada. O trabalho consiste basicamente no repasse de orientações à população, por meio da distribuição de material educativo e realização de palestras nas comunidades.

Os caramujos africanos começaram a surgir em Manaus em 2004, quando foi iniciada uma campanha de informação à comunidade sobre a espécie. A partir de 2005 começou a campanha de controle propriamente dita, com a Prefeitura instalando pontos de coleta de caramujos que eram destinados à incineração.

Texto: Elias Pereira
Com informações de:
Secretaria de Estado da Saúde/Superintendência de Vigilância em Saúde/SC
FAPEAM – Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas
IOC – Instituto Osvaldo Cruz
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Limpeza e Serviços Públicos - Manaus

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