segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O vôo das mariposas

Por qual de suas características você gosta de ser lembrado? O que torna mais evidente sua pessoa? Inteligência, status, profissão, sobrenome?Ainda que não queiramos, não façamos questão, ou sequer nos esforcemos para lembrar disso, todos carregamos nossas “marcas”, aspectos e características que ainda que estejamos ausentes, fazem com que sejamos lembrados. Mas esse não é um privilégio só das pessoas. Organizações e lugares também carregam suas marcas. Quando falamos em Microsoft, por exemplo, logo lembramos de computador. Quando se menciona o epíteto “rei do futebol”, de quem lembramos? Pelé!E quando falamos de Humaitá, qual sua característica mais marcante? Álvaro Maia? O príncipe dos poetas amazonenses? Ferreira de Castro, poeta português que imortalizou nas páginas do best seller “A Selva”, as lembranças da infância e adolescência vividas ali no seringal Paraíso? O imponente e impetuoso rio Madeira, cantado e decantado em prosa e verso? Talvez seu enorme potencial agrícola, com seus milhares de hectares de campos cultiváveis? São muitas e variadas as “marcas” que lembram positiva ou negativamente o centenário município de Humaitá.Dentre estas, uma que infelizmente pode concorrer para a triste marca de rota da prostituição infanto-juvenil, notadamente por estarmos entre duas capitais e sermos uma espécie de elo entre elas, passagem obrigatória. Lugar onde inevitavelmente se faz uma escala seja via terrestre principalmente, mas também via fluvial e aérea, dentre outras características que igualmente facilitam essa prática. Há muito que autoridades, professores e pais, lutam contra essa realidade perversa, relativamente velada, mas que já responde por números significativos nas estatísticas policiais, hospitalares, etc.Na esteira desse “Cancro social”, vêm a gravidez indesejada, a proliferação de DSTs, notadamente a Aids, o aumento da violência, o consumo e o tráfico de entorpecentes e a desagregação familiar e social. Ouvi de uma menor aparentando pouco mais de 10 anos, oferecendo seu corpo em troca de um cigarro! E esse seria um “programa” relativamente caro, levando-se em conta que muitas não cobram nada.E a estratégia é mais ou menos conhecida. Ao cair da tarde, contrastando em geral com a magia do pôr-do-sol, elas começam a aparecer, levantam vôo; preferencialmente procuram as adjacências da estação rodoviária, mas não somente aquele lugar. O “visual” denuncia pouca ou quase nenhuma condição social. Roupas diminutas, sandálias de borracha, cabelos mais ou menos arranjados, um acessório qualquer e o inseparável baton, quase sempre de cor viva, uma espécie de “senha”. Andam em pequenos grupos, “estacionam” nos bancos das praças e começam a espreita. O mesmo ritual pode ser visto em outros “points” da cidade, bastante conhecidos por quem os freqüenta, aliás, público que não pára de crescer.E conquanto seja esse um problema que se alastra em todo o país, não podemos e não devemos fechar os olhos nem calar nossa voz. É bem verdade que muitas instituições, governamentais ou não, têm devotado uma considerável parcela de suas forças na luta contra essa trágica realidade. Mas ainda estamos muito longe do que esperamos ou pelo menos imaginamos. Entretanto, como diz um velho e, aliás, preocupado político brasileiro, “a luta continua”!

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